domingo, 31 de janeiro de 2010

Gravidez

Estou prenho, me embucharam de loucuras. Sabe aquela gravidez estranha, tão estranha na cabeça? Me fazem ver cores inexistentes, pássaros mortos na janela, corvos voando dentro do mar. Loucuras, gravidez, solavancos e distúrbios. Me vejo voando por entre árvores, depois eu caio em cima de um monte e ele se torna um pico. O pico desaparece e eu estou novamente no chão. Engravidei, não sei de quem e nem onde, me fizeram pai. Não, não posso permitir essa ofensa pro resto da vida, vou abortar. Cuspi para fora as futilidades, cuspi para fora toda essa loucura, realmente abortei. E agora, agora me sinto vazio, nada.

Dez, minutos.

Vou andar por ai, vou dar uns dez minutos de tempo, vou enrolar. Ver se o tempo passa, se passar dez minutos, ótimo, vou fingir esse tempo. E nesse fingimento vou te colocar em altar, vou faze-lo Deus. Deus? não, muito, alguém importante talvez, alguém que eu amo. Mas te amar se tornou tão fútil, tão sem sal nem açúcar, porque não houve resultado nisso, a não ser o velho sofrimento, a amargura. Dez minutos se passaram e nada, nada de mudanças. Vou dar mais dez minutos para mim, dez minutos de silêncio, dez minutos mortais. E no mortal não volto mais, fui pra outro plano, vou pra outro alguém. Adeus. Dez minutos ...

Tentação

Sabe aquela corda ali? é tentadora, aqueles remédios também, aquele carro passando na rua com rodas e um peso imenso, tudo tentação. Aquela faca, aquele fogo, aquele veneno, tentação. Nada mais que tentação. Eu nessa vida, eu na sua vida, fétido, enxofre. E a tentação continua, olha aquela ponte, aquele precipício, tentador não? pulo, me afogo, me mato? Não, acho que não, a depressão é grande, a tristeza imensa, o coração dói, mas nada tão grande quanto a ânsia de viver, viver mais uns anos e quem sabe te esquecer!

Madalena

Madalena chorando me corta o coração, ora pois, deixa de drama Madalena, ao menos tens um nome e uma alma a zelar. Me deixa chorar, Madalena sou, até que provem o contrário, mas a alma está ferida, sem zelo, sem cor. Ora pois Madalena, deixa-me te amar, deixa-me te colorir em vez desse preto e branco que traz na vida. Eu não sei se devo, não sei se posso ser amada, angustia me fala mais alto, tenho medo do desconhecido. Madalena, Madalena, não eras assim anos atrás, não tinhas tantas duvidas, tantas desconfianças. Minha vida mudou, sou Madalena, mas Madalena com rancor, quem fez foi a vida, a dor. Mas Madalena, quem és agora? . Madalena meu amor, apenas Madalena, Madalena que se vai, Madalena que se foi. Adeus Madalena, adeus.

Clichê 2

Eu sei, eu sei, o eterno clichê 'isso passa'. Passa sim, e, quando passar, algo muito mais triste vai acontecer: Eu não vou mais te amar.
E eu colecionava vida pra te encher dela depois.Agora encho quem ou o que?O que eu faço com a vida?O que eu faço com a graça da vida?
E tudo bem, não é você, nunca foi, mas escuta a maluquice: é que nada disso impede que eu sinta um amor absurdo por você.

Relapso

Eu tive um namoro estável, complicado e ao mesmo tempo perfeito, mas tudo acaba um dia, isso é fato; e acabou mesmo. E aí que você percebe que existem outras perspectivas, que ninguém é insubstituível e que pessoas interessantes sempre cruzarão seu caminho, seja uma em um milhão ou seja uma a cada esquina, sentimentos vivem em mudanças, filas andam e o mundo gira!


- Isis Manara 

sábado, 30 de janeiro de 2010

Clichê

E por mais que seja clichê e mil pessoas já tenham repetido as mesmas palavras que eu, saiba que você é tudo aquilo que necessito para viver. Você é o que me faz sorrir, o que me faz forte. 
O brilho que encontrei em seus olhos foi o que me deu forças para seguir. O brilho que ofuscou todo o resto. O brilho que me fez estremecer.
Tudo em você me faz bem. Seu sorriso, suas palavras, seu jeito, tudo em você, tudo. Tudo em você me faz perder o ar. Tudo em você faz meu coração conseguir bater até três mil vezes por segundo. Parece algo impossível, mas não é quando se trata do sentimento mais belo do qual falo. O que sinto por você, algo que nem sei como dizer. Não sei como explicar, pois as belas palavras fogem ao meu encontro.
Como disse antes, pode ser algo clichê, mas é verdade. Procurei algo mais forte e bonito para falar, mas não achei. Por isso vai um eu te amo mesmo, né?
Amor. Amor mesmo. Amor que não se sabe onde começa e nem onde termina. Só se ama.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Clarice Lispector

Escrevo por não ter nada a fazer no mundo: sobrei e não há lugar para mim na terra dos homens. Escrevo porque sou um desesperado e estou cansado, não suporto mais a rotina de me ser e se não fosse sempre a novidade que é escrever, eu me morreria simbolicamente todos os dias.

sempre

Eu não vou mais dizer que te amo, não vou mais suplicar por nada, vou deixar o vento soprar minhas doces palavras em teu ouvido, deixar que te levem o som que balbucio, aquele eu te amo sofrido, um sou apaixonado por você com sangue que todo esse tempo me vem tirando. Vou deixar você me perceber, deixar você ver que ninguém no mundo vai te amar como eu te amo, com tanto afeto, com tanto açúcar, com tanto amor. Se um dia me ver, só observar, verá que não minto, que eu te amo diferente, com mais intensidade, com mais dor. Aquela musica, faço questão de ouvi-la todo dia, derramo tanta lágrima lembrando quando à ouvi-mos juntos, e eu ainda te amo. Vou te amar para sempre acredito, já fiz mil juras de ódio, já te falei que não o amo, puras mentiras, falsidade que trago, ilusão. Você é tudo para mim, meu dia feliz, minha alma triste, meu ultimo fôlego e desespero, meu aperto no peito, minha doce ilusão de felicidade. E digo mais, podem se passar anos, mas eu sempre vou te amar, mesmo você nem ligando pra isso!

domingo, 24 de janeiro de 2010

Amarelo com rosa queimado entre outras cores

Ele não tinha uma capacidade normal, ele apenas observava, olhava para o mundo como se fosse um rato fugindo do seu agressor, era tudo muito parado, tudo muito igual. Então naquele dia frio e cinzento, ele colocou sua calça amarela e seu agasalho rosa queimado, pois ele queria dar mais cores as pessoas, embora não fosse uma combinação realmente amistosa. Ele saiu porta afora, com o mesmo olhar parado, mas com algo diferente que os outros dias em que apenas ia a padaria com seu velho suéter azul e seu jeans pouco surrado, pois, todos o olhavam, era um brilho diferente no olhar, pescoços viravam para olhar e alguns até cochichavam entre si. O garoto imaginou que sua diferença estava ofuscada pelas cores, seu autismo estava confuso entre o rosa e o amarelo, não conseguiam mais vê-lo. No dia seguinte vestiu um suéter roxo, calça vermelha e sapatos pretos, e desceu a avenida, sorrindo, feliz, ninguém mais o olhava, ninguém mais percebia sua incapacidade de interagir, e ele desceu contente, sorrindo e entusiasmado. E foi assim sucessivamente, cores, alegria, e uma rapaz crescendo, sempre descendo a mesma avenida, mas quando chegava na travessa, ele sempre tomava um caminho diferente, agora, com uma camiseta azul anil, uma calça branca com tênis vermelhos, o sol brilhava forte, e ele ia pela Pett Adam's, vento no rosto, curado.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Não te peço nada mais

Eu não peço nada que não possam me dar, não peço riqueza, não peço escândalos, não peço nada surreal. Só peço clareza, simplicidade, só queria seu amor. E onde já se viu eu me apaixonar, eu que nasci para ser livre e feliz, agora morro de amores e meu coração enjaulado clama por alguém. Me deixa fugir, me jogue as tranças Rapunzel. Eu não peço nada mais, além do que se pode dar, não peço nada tão estranho que alguém possa invejar, só quero seu amor. Ah, amor de dor, ah, calor sem cor, que diria eu se te visse agora, além do simbólico eu te amo seguido de mil abraços apertados, mesmo em incógnitas. Quem me salva desse afogamento? quem me tira desse sofrimento, essa chama que me queima e me deixa cada vez mais em carne viva. Como se reclamar resolvesse essa revolta, então findo em tempos que a solidão falou mais alto, morro por ti.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Morro

Você me teve nas mãos, mas me amassou como um rascunho e me jogou no lixo próximo a tua mesa. Você me fez ver algo bom, algo que eu não sabia existir e no momento seguinte me deixou sem chão, sem alma. Eu só queria que você não me fizesse rir, queria que me deixasse te esquecer, queria poder não existir em sua presença. E quando peço isso balbucio palavras ásperas, me desprezo, me faço um lixo, porque te glorifico, te faço um Deus. Em meados de novembro tudo ficou mais nítido, mas óbvio, mas fétido, ficou claro que não sou bom o suficiente para reverter a situação. Então, apenas escrevo, escrevo esperando pelo meu momento final, por meu último suspiro, por minha ultima lágrima. Morro por você.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Duas da manhã

Duas da manhã, e eu ainda acordado escrevendo, se eu puser tudo o que sinto aqui, não estará mais dentro de mim ameaçando a vida a qual pertenço, me sinto nú diante da multidão, porque essas palavras são meu diário gritando bem alto e eu sei que você vai usá-las como quiser. Entretanto, posso me expressar aqui e nem ao menos me notarem, como tem sido até hoje, erro propositalmente tentando chamar atenção, mas não, estão ocupados demais se amando ou talvez apenas saboreando um bolo de chocolate. Vou até a janela, olho pra rua deserta, nem ao menos um carro para iluminar aquela poça de água para eu poder me ver refletido nela, bobagem, pois não tenho imagem. Não tenho estado sóbrio desde o verão passado, quando resolvi ter alguém em meu coração, sofro, me acabo em lágrimas desde então. Mas você não vai querer saber disso, sou eu e meu texto, duas da manhã e não estou nada sóbrio.

Um faz de conta que acontece

Estou brincando de faz de conta faz tempo, desde quando completei seis ou sete anos, foi sempre assim, faz de conta que estou feliz, faz de conta que alguém me ama, faz de conta que não está chovendo. E nesse faz de conta, tem coisas que acontece, espantoso isso não é? Veja bem, no quesito feliz, tenho amizades, amar, minha mãe me ama, e não está chovendo hoje. Loucuras e loucuras, quem me dera lucidez, e eu que dou risada de qualquer coisa, me passo como louco. Louco, loucura, sinônimos e eu continuo no meu faz de conta, faz de conta que acontece, claro.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Vai e volta

Ele tinha planejado tudo o que faria naquele domingo, acordaria de manhã, arrumaria o cabelo rebelde, colocaria qualquer roupa e desceria na padaria tentar pegar algum pão fresco e uma mortadela ainda não passada da validade, depois retornaria para casa e iria tomar seu café antes do futebol de praxe. Não foi bem assim, começou atrasando quarenta minutos e só conseguiu pegar uma bengala amanhecida e um pote de margarina, indo pra casa, pisou numa defecação de um bicho qualquer, escorregou e torceu o tornozelo, e claro, se lambuzou todo. No caminho para o hospital, a velha senhora de carona na mesma ambulância reclamava do forte odor, dizendo ser o cortiço próximo a praça que ficava na avenida principal e era cortada pela paralela que passava pela esquina do açougue onde a carne era de péssima qualidade e os funcionários uns safados que olhavam para sua neta com maus olhos. E la se foi Eurico, com a velha fofoqueira e um motorista maluco que nem sequer parava nas lombadas. Chegando ao pronto socorro se deparou com Roberval, o vizinho charlatão que roubava seu chuchus que teimavam em pular a cerca, assim como ele, que já estava na quinta ou sexta esposa, enfim, pulando a parte do Roberval, já que nem conversavam. Ele fez os exames e foi uma contusão médio grave, teria de ficar por volta de quinze ou vinte dias em repouso. Voltou para casa, deitou, pegou o controle da televisão e passava apenas programas religiosos ou de pesca, afinal, era domingo, resolveu descer na padaria, comprar porcarias e se entupir. No caminho, la estava a defecação um pouco remexida ...

Perdão e contradição

Embora sem perdão aparente, ou qualquer tipo de menção sobre o assunto, eu me recordo do dia em que fui feliz ao teu lado. Você me olha, como se fosse eu o culpado de tudo, eu quem derramou o leite e sem remédio joguei agua e foi-se tudo para o ralo. Costumo refinar o meu olfato com seu cheiro, o paladar lembrando dos teus beijos e o tato sobre seus cabelos recém lavados e com cheiro de lavanda. Aqueles dias bem vividos, sem mal pressagio, apenas com sua imagem pairando sobre a alegria imensurável que eu tentava conter e não transparecer idiotia. Mas fora-se o tempo em que tudo eram flores, fora-se o tempo em que nadáva-mos em mares de rosas, dessas rosas só sobraram o vermelho, que vejo no sangue que escorre junto as minhas lágrimas pelo seu olhar de desforra e contradição.

(escrito em poucos minutos para uma competição com Duda Natoli.)